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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Canção do Tamoio

Muito se fala da grandiosíssima "Canção do Exílio" do Gonçalves Dias, e claro, sem dúvida alguma é uma poesia fabulosa, grande marca do nacionalismo romântico. Mas, cantar a pátria não foi somente a grande qualidade do poeta, a bravura pessoal, inspiração de força e fé é cantada e declamada pela linda e inspiradora "Canção do Tamoio". Levando-se em consideração o momento hisórico em que foi escrita (no século 19) estávamos em plena época do romantismo e época das lutas pela pátria que se consolidava, da vida em uma sociedade conservadora, escravocrata, e dos sonhos de liberdade que a França inspirava. Ainda hoje emociona ouvir o brado do índio "meu filho, viver é lutar! A vida é combate, que aos fracos abate, aos fortes aos bravos, só pode exaltar.  Tamoio é uma palavra que teve origem na tribo dos Tupinambás e que significa: reunião dos fortes, dos donos da terra, daqueles que chegaram primeiro. Afinal, antes do homem branco chegar às Américas, quem é que habitava essas terras se não os pele vermelha, os índios, fortes, guerreiros, os verdadeiros donos da terra?
É uma poesia que inspira e dá forças, é arte!

 Canção do Tamoio
(Natalícia)


I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
VII
E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.
X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.

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