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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(500) Dias Com Ela

Nossa, já faz um tempinho do meu último post, a desculpa de falta de tempo é a mais conveniente agora, que vergonha! O importante é que estou de volta e, para primeira postagem de 2011, escolho falar de cinema já que estou engajado em um projeto científico na área, aproveito este meu (nosso) espaço para praticar a arte da crítica e poética narrativa. Escolhi um filme que recentemente assisti e gostei bastante, uma história que foge da previsibilidade dos clichês, tão discutidos no ônibus durante a viagem ao Rio de Janeiro.

“Esta não é uma história de amor”, alerta, logo de início, a voz misteriosa que narra o filme “(500) Dias Com Ela” ((500) Days of Summer, 2009, dirigido por Marc Webb). Porém, opiniões divergentes à parte, “amor” é exatamente o que Joseph Gordon-LevittZooey Deschanel inspiram ao longo de toda a trama. Amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor...
Tom Hansen (Joseph), um redator de cartões comemorativos, sabe que a nova assistente do seu chefe, Summer Finn (Zooey), é “a certa” assim que a vê pela primeira vez. Ele, um românico incurável, busca incansavelmente a mulher da sua vida, enquanto Summer, desde criança, é uma descrente no amor. E apesar de tantas diferenças, eles acabam embarcando em um divertido e cativante relacionamento.

Nos primeiros meses, os dois protagonistas vivem o momento “conto de fadas”. Passeios. Risadas. Afinidades. Beijos. Sexo. Entretanto, como em 95% dos relacionamentos reais, a fase colorida dura pouco e a rotina assume o controle, pontuando o término da relação. O tempo passa, mas Tom não consegue esquecer Summer. Ele ainda a ama e espera que os dois possam reatar a qualquer momento, até descobrir que ela está noiva.

Desmotivado com tudo o que o cerca, ele mergulha em uma depressão profunda, quando, a partir da desilusão, do sofrimento e das lembranças constantes de Summer, ele se redescobre e ganha um novo motivo para seguir em frente: sua carreira. Algum tempo depois, Tom reencontra a antiga namorada, que está casada e feliz. Summer não é mais a mesma garota, agora ela acredita no amor. Tom, por outro lado, perdeu parte do seu romantismo e passa a considerar que, talvez, o sentimento não passe de pura ilusão. Mas se engana, entretanto, quem pensa que o propósito, como provoca o narrador, é mostrar que o amor verdadeiro não existe.
História triste? Sim, mas cômica, também. “(500) Dias Com Ela” está longe de ser um filme estilo dramalhão, cheio de falas de efeito e lágrimas descontroladas.  As cenas de Tom e Summer são, em sua maioria, engraçadíssimas e, além de bem pensadas, anulam a atmosfera tensa dos acontecimentos. A interpretação de Zooey é tão boa que, em alguns momentos, as falas viram apenas adereço para expressões faciais simples, mas que levam o público às gargalhadas. Além disso, o enredo ainda conta com os conselhos criativos que Tom recebe de seus dois melhores amigos, McKenzie (Geoffrey Arend) e Paul (Matthew Gray Gubler), e, principalmente, de sua irmã caçula, Rachel (Chloe Moretz), uma garotinha simplesmente encantadora.

A arquitetura de Tom está presente durante todo o filme, em imagens e cenários fantásticos, que o acompanham da alegria extrema à tristeza absoluta. Outro ponto positivo é a ótima trilha sonora, que se encaixa perfeitamente nos personagens. Além de “There Is A Light That Never Goes Out” e “Please, Please, Please, Let Me Get What I Want”, dos Smiths, destaque também para “Sweet Diposition”, da banda australiana The Temper Trap, “Us”, de Regina Spektor e “Quelqu’um M’a Dit”, na voz maravilhosa de Carla Bruni.  
“(500) Dias Com Ela” é um filme especial, uma das obras mais bonitas já criadas acerca do amor, pois foge da previsibilidade. São 500 dias aleatórios e não-lineares da vida de um casal, do início ao final. Situações reais que fazem parte do nosso cotidiano, e nãoabordagens fantasiosas, cheias de promessas eternas, príncipes e princesas. Acompanhar a história de Tom e Summer é como se enxergar através de um espelho e, no fim, a sequência de fatos vai contra tudo o que as aparências sugerem e mostra que o amor verdadeiro e a pessoa certa existem, sim. Você só precisa procurar bem. Ou esperar e ser encontrado.